Nasceu no Brasil mas o coração já se divide entre Portugal e Terra de Vera Cruz. É a mulher responsável por um dos maiores eventos de música e já conquistou há muito o público português com o seu sorriso e carisma. Falamos de Roberta Medina, a vice-presidente do Rock in Rio.

Numa altura em que o Rock in Rio comemora 15 anos, recupero a entrevista que fiz à Roberta Medina há uns anos, na qual explicou como lida com as suas finanças pessoais.

Leia a entrevista:

Qual a sua relação com o dinheiro?

A minha relação com o dinheiro é prática. Uma coisa que sempre foi importante na minha educação, em casa, é que não importa se é mais ou menos dinheiro tem que levantar, tirar a mesa, arrumar a casa, limpar, etc. Tinha uma consciência muito grande do valor das pessoas. O dinheiro podia ir ou vir mas existiam coisas muito mais importantes. E que nós tínhamos, acima de tudo, de ter uma atitude muito proativa em relação à vida. Acho que tive a benção de crescer sem passar por nenhuma necessidade, não sei o que é isso, mas tenho um compromisso muito grande. Não é que não use o meu dinheiro. Eu trabalho e ganho o meu dinheiro, e tenho esse direito de usar mas acho que ele traz responsabilidades também. Até porque há muita gente no mundo que não tem.

O que costuma trazer sempre na carteira?

Carteira, caneta, telemóvel, batom. Tralha, né? (risos).

Quem é mais gastador: homem ou mulher? E como é lá em casa?

Eu não sei. Eu não gosto muito dessa questão do género porque não é verdade que é um ou outro. Existem homens que gastam muito, e existem mulheres que gastam muito. Agora lá em casa, acho que eu. Mas também sou eu que faço a gestão das coisas da casa, tenho que gastar mais. (risos)

Lembra-se do que comprou com o primeiro ordenado?

Eu lembro que o primeiro salário que eu tive, e eu ganhava pouquinho, foi como assistente, de assistente, de assistente no Barra Shopping. E, na altura, o meu pai parou a mesada e eu passei a assumir as responsabilidades. Eu tinha 17 anos. Eles pagavam a faculdade e, a partir de determinadno momento passei a pagar tudo desde a gasolina, seguro de saúde, etc. Assumi muito os gastos que eles tinham comigo.

Qual foi o melhor investimento que fez?

Acho que o meu cachorro (risos). Isso é uma brincadeira, né? Investimento sério acho que sempre nas coisas essenciais, na saúde, etc. Eu brinco que foi meu cachorro porque foi ele que escolheu o marido, e com o marido veio a filha linda e fofa. O cachorro foi espetacular (risos).

Qual o valor que a faria deixar de trabalhar?

Não tem a ver com valor. Eu tenho uma busca eterna por plenitude, e isso não tem a ver com valor financeiro, nem com o que se faz. Tem a ver com o que quer que você esteja fazendo, seja dona de casa, vendedora de loja, empresário, vocês esteja muito inteira naquilo. Por isso, acho que não tem assim um valor.

E que objeto é que não venderia por dinheiro nenhum?

Objeto? Eu não sei se tinha alguma objeto que não venderia por dinheiro nenhum. Eu não consigo pensar em nada agora porque acho que depende. É que dinheiro nenhum dá uma dimensão muito alargada. E aí eu acho que o objeto pode perder sentido, perto de uma coisa muito melhor que você pode fazer com esse dinheiro que vem. Imagina que é uma coisa muito importante que você vai poder realizar o sonho de muitas pessoas, que vai fazer bem para muita gente, vai o objeto.

Português ou brasileiro: quem é mais poupado?

Acho que o português é mais poupado que o brasileiro

Qual foram os melhor conselhos, a nível financeiro, que alguma vez recebeu?

Não consigo dizer um conselho financeiro, acho que tem muito a ver com a educação que tivemos em casa. Acima de tudo não dar demasiado valor ao dinheiro, e às coisas materiais.

E que conselho gostaria de deixar para a sua filha?

Que ela não leve dinheiro muito a sério. Que temos de trabalhar, de ter dinheiro, que vivemos em sociedade e o dinheiro é uma moeda importante. Eu costumo dizer que gostaria que existissem duas moedas: uma que fosse dedicada a saúde, comida, casa, educação, e o resto para fazer outras coisas. O que é disparatado é que o mesmo dinheiro que compra uma coisa muito cara, que é um objeto de luxo, é o dinheiro que alimenta alguém. Isso não devia ser assim. O que é importante é ela entender o que realmente tem valor no mundo, são as pessoas, o ser humano, a saúde. Acima de qualquer coisa. Já o dinheiro: toca a trabalhar para correr atrás, fazer por ele. Afinal quantos exemplos de pessoas nós conhecemos que tiveram o dinheiro de uma forma muito fácil e perdem a motivação. E deixam de ter vontade. Nós hoje estamos numa sociedade bastante alterada em termos de valores. Mesmo no Brasil com a diferença social grande que existe, tive uma experiência de perguntar para uma pessoa que mora na favela, em condições ruins: “Mas o que é que você quer?” “Um tablet.” Está tudo alterado. Ela acha que é a referência de sucesso – óbvio que não é só isso. Mas a primeira coisa que respondeu foi um tablet. E não é um tablet. Devia ser primeiro a escola do filho, uma casa melhor, sei lá. Tinha tantas coisas que podiam entrar antes. Estamos numa sociedade de valores alterados. E o que eu espero é que a Lua (a filha), ou se tiver mais filhos, pelo menos estejam bem alinhados no que realmente tem valor